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Os guardiões da caverna e a última palavra

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Por Robson Ramos

“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz” (Platão)

Reza a lenda que numa época remota em terras muito distantes havia uma cidade com uma população vivendo conflitos de toda sorte, num clima de quase guerra civil. Tudo porque os guardiões do sistema jurídico-político que deviam reger a vida daquele povo viviam numa caverna, espaçosa e com todas as mordomias.

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Tinham tudo o que queriam e muito mais, enquanto o povo sofria de todo tipo de injustiça. A caverna – como se fosse um castelo das épocas medievais ficava no alto do morro, mas não muito distante de onde as pessoas comuns experimentavam miséria, insegurança, vivendo sem perspectiva de um futuro melhor e ainda por cima, submetidas a todo tipo de violência e impostos – dos mais altos de que se tinha notícia no mundo da época. Óbvio, para manter as benesses e suprir a farta mesa de quem habitava o palácio-caverna.

Os que viviam na caverna estavam divididos em grupos distintos, uns ficavam num canto, outros num outro lado e um terceiro grupo ficava no outro extremo. Alto-clero e baixo-clero. Como se estivessem nas pontas de um triângulo. No meio havia uma fogueira.

Nesse ponto preciso fazer uma pausa, antes que o leitor me acuse de plágio. Quem conhece a Alegoria da Caverna, de Platão, certamente já viu que há algumas semelhanças. Esse texto é uma adaptação do texto de Platão. Espero que ele entenda e me conceda o uso desse recurso, mesmo porque, estamos falando da República, sua obra mais paradigmática, da qual faz parte a Alegoria da Caverna

Continuando …

O problema é que aqueles que moravam na caverna cuidavam dos seus próprios interesses. Cada grupo puxando a ‘brasa para sua sardinha”, em vez de atuarem como servos do povo. Lá dentro predominava um sistema autofágico, ainda que se dirigissem uns aos outros como “Vossa Excelência”. Um queria devorar o outro ou transformá-lo em vassalo seu, ou de seu grupo de rábulas. Certamente havia os mais graúdos, que se achavam os donos. Viviam de joguinhos políticos, de escambo de favores para si ou para outros, de dissimulações, trairagens e canalhices.

Cada um dizia que mandava mais, que sabia mais e que tinha mais legitimidade para ter a última palavra. Eram verdadeiros lobos, ilustrando perfeitamente a célebre frase de Thomas Hobbes (1588-1679) “O homem é o lobo do homem”, inserida no seu livro mais famoso, Leviatã. Muito embora se atribua a frase originalmente a Plauto, dramaturgo romano (254-184 a.C). O que existia de fato era o tal do “faroeste à brasileira”, quando os bandidos perseguem os mocinhos.

Entretanto, esses mesmos gostavam, vez por outra, de colocar a cara de fingido para fora da caverna, só um pouquinho, achando que o povo que olhava estava acreditando, quando na verdade sofriam e se indignavam, de forma crescente.

Vários daqueles que se achavam mais poderosos, lá dentro, tinham suas conexões com organizações criminosas que atuavam no lado de fora, atormentando as pessoas de bem. E controlavam tudo, impedindo que elas se desenvolvessem. Era a imposição de uma Matrix usando os mantras já conhecidos: “em defesa do regime democrático”, “as instituições estão em pleno funcionamento” e outras bobagens que não colavam mais, de tão desgastadas que estavam, já que as ações não correspondiam às palavras.

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Todos – quem estava dentro e quem estava fora da caverna – sabiam que o que estava em jogo era o controle, o poder. Mas, controle do quê? A serviço de quem?

É bem verdade que houve algumas tentativas da parte de alguns, dentre os que estavam acorrentados dentro da caverna, de se livrar e sair da caverna. Mas eram logo submetidos a todo tipo de tortura mental quando não eram cooptados em troca de algumas benesses. Enquanto isso mantinha-se o discurso de que quem comandava a vida – dentro e fora da caverna – eram aqueles que, num conluio entre as mentes mais nefastas daquele grupo, detinham o controle. Mas a serviço de quem?

Os mais graúdos pensavam que conseguiriam se manter no “escurinho” da caverna ad eternum. Tamanha era a desfaçatez que suas almas já estavam malignamente narcotizadas pela fumaça que saia da fogueira queimando no centro da caverna, a ponto de perderem a consciência – se é que a tiveram um dia – do que era certo e errado.

Porém, subestimaram a capacidade de quem estava do lado de fora, de entenderem o que de fato estava acontecendo e de se articularem para acabar com a festa das “vossas excelências”.

O povo não aguentava mais, tamanha era desfaçatez daqueles que deveriam atuar em sua defesa e seu bem-estar. Afinal, o oráculo que deveria supostamente reger a vida daquele povo, e de suas autoridades, dizia que “todo poder emana do povo”. Estava claro que na prática não era bem assim, muito pelo contrário.

Diante da constatação de que a desordem reinava, o povo resolveu fazer alguma coisa. Uma passeata foi organizada. Adesão total. A multidão se mobilizou, à semelhança do que ocorrera no Antigo Testamento, quando o povo de Deus marchou em volta de Jericó ininterruptamente por sete vezes, fazendo com que os muros daquela fortaleza viessem ao chão. Aconteceu que o povo, cansado de ser tratado como idiota, sem perceber, acabou passando por cima da caverna que não resistiu à força daquela gente toda. A “casa caiu” metafórica e literalmente. Nunca se soube ao certo se o povo fez aquilo intencionalmente ou não. Comentou-se na época, que um inquérito teria sido instaurado mas que não deu em nada.

Sobre o autor: Instagram: @robson.ramos.adv

Facebook: facebook.com/robson.ramos.1460


Robson Ramos é advogado e consultor em Implantação de Programas de Integridade e Compliance. Atuou por mais de 20 anos em multinacionais americanas, nas áreas de gestão de pessoas e desenvolvimento estratégico. Membro da Academia de Letras de BC. Seu quarto livro – Cidadania Compartilhada – está com lançamento previsto para Setembro.

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