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THIAGO ROCHA
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Janeiro de 2016. Dias depois de perder para o sérvio Novak Djokovic na semifinal do Aberto da Austrália, Roger Federer passou a sentir dores no joelho esquerdo. Após anos de rotina intensa e corpo sendo levado ao limite físico, o suíço agravou o problema da forma mais banal possível: preparando o banho das filhas gêmeas, Myla Rose e Charlene Riva. Com uma lesão no menisco, teria de encarar a primeira cirurgia da carreira, aos 34 anos.
A recuperação, no entanto, não foi plena. Federer jogou mais quatro torneios naquele ano, mas as dores persistiram. Após parar na semifinal de Wimbledon, caindo para o canadense Milos Raonic, ele optou por não jogar o restante da temporada. Abriu mão dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e da chance de conquistar a única honraria que lhe falta, a medalha de ouro individual. Desta forma, fechou 2016 sem nenhum troféu conquistado.
Ciente de estar nos instantes finais de sua trajetória como tenista de elite, Federer voltou à ativa em 2017, mas mudou o foco de seu calendário. Entre priorizar grandes eventos e se preservar fisicamente ou manter o ritmo alucinante de torneios que o circuito mundial impõe para se manter no topo do ranking, ele fez a primeira opção. Mais saudável e menos "compromissado", o suíço vem sobrando nas quadras, aos 36 anos, quando a maioria apostava em declínio. Ele deu mais uma amostra de que a estratégia foi certeira ao conquistar pela sexta vez, no último domingo (28), o Aberto da Austrália, o 20º título de Grand Slam da carreira.
No ano passado, logo em seu primeiro torneio oficial desde a pausa por lesão, Federer também venceu o Aberto da Austrália. Ganhou mais um Grand Slam, em Wimbledon. Quando o corpo deu sinais de fraqueza, em forma de dores nas costas, o suíço desistiu de Roland Garros, onde tem retrospecto ruim, e torneios menores para se preservar para o ATP Finals de Londres, em novembro. Em 2017, o tenista conquistou sete troféus, com retrospecto de 52 vitórias e apenas cinco derrotas.
O roteiro previsto para 2018 é similar ao do ano passado. Começou com a Copa Hopman, torneio misto que não vale pontos para o ranking da ATP. Após o Grand Slam australiano, Federer jogará eventos de piso duro nos Estados Unidos (Masters 1000 de Indian Wells e Miami).
Antes disso, deverá reassumir a liderança do ranking mundial, ultrapassando o espanhol Rafael Nadal. Espera-se que ele participe de torneios preparatórios para Roland Garros e Wimbledon, mas tudo dependerá da motivação de Federer no decorrer da temporada.
"Senti a mesma coisa durante 15 anos. Em toda partida, eu entrava esperando vencer, ir longe no torneio Desde a lesão que tive [no joelho, em 2016], houve uma espécie de reinício na mente, no corpo e na minha abordagem das partidas", explicou Federer neste domingo, após bater o croata Marin Cilic na final em Melbourne.
Há outro fator também que impacta no calendário: a família. Com exceção dos Grand Slams ou de algum torneio em que precise estar presente por contrato, o suíço também leva em conta o tempo que terá ao lado dos quatro filhos na hora de definir para qual torneio partirá. A esposa, Mirka Federer, está quase sempre presente, até por agenciar a carreira do marido. "A Mirka torna tudo isso possível. Sem ela, eu já teria deixado o tênis há muito tempo. No dia em que ela disser 'não', acabou. Até porque não estou mais disposto a ficar duas semanas longe dos meus filhos", revelou.
Obviamente, Federer aproveita a condição de ser Roger Federer para ficar mais seletivo com a carreira. Com 96 títulos de simples conquistados e 302 semanas totais na liderança do ranking mundial, ele não tem mais nada a provar em termos de performance, e ainda se dá ao luxo de ver alguns de seus rivais históricos nas últimas duas décadas, como o espanhol Rafael Nadal, o sérvio Novak Djokovic e o britânico Andy Murray. Não é uma coincidência que os três, todos mais jovens, estejam penando fisicamente para cumprir um calendário desgastante.
Enquanto os tenistas questionam a ATP e buscam alternativas para tornar a rotina de competição menos desgastante para diminuir a incidência de lesões, Federer pode deixar um novo legado para o tênis: colocar a condição física em primeiro lugar, como já admitiu Chris Kermode, presidente da Associação dos Tenistas Profissionais.
"Esse é o debate sobre ser bom ter Roger jogando aos 36 anos - é é bom, mas ele jogará menos e trabalhará de fato por um calendário com menos partidas disputadas - ou você ter um sistema em que as pessoas joguem em excesso e se machuquem?", questionou o dirigente, em entrevista à TV britânica Sky Sports, em dezembro.
Existe a possibilidade de a ATP realizar mudanças no sistema de pontuação e calendário a partir de 2019. Mais uma temporada bem-sucedida de Federer deverá ter um impacto imediato por um circuito menos sufocante para os tenistas da elite.
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THIAGO ROCHA
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Janeiro de 2016. Dias depois de perder para o sérvio Novak Djokovic na semifinal do Aberto da Austrália, Roger Federer passou a sentir dores no joelho esquerdo. Após anos de rotina intensa e corpo sendo levado ao limite físico, o suíço agravou o problema da forma mais banal possível: preparando o banho das filhas gêmeas, Myla Rose e Charlene Riva. Com uma lesão no menisco, teria de encarar a primeira cirurgia da carreira, aos 34 anos.
A recuperação, no entanto, não foi plena. Federer jogou mais quatro torneios naquele ano, mas as dores persistiram. Após parar na semifinal de Wimbledon, caindo para o canadense Milos Raonic, ele optou por não jogar o restante da temporada. Abriu mão dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e da chance de conquistar a única honraria que lhe falta, a medalha de ouro individual. Desta forma, fechou 2016 sem nenhum troféu conquistado.
Ciente de estar nos instantes finais de sua trajetória como tenista de elite, Federer voltou à ativa em 2017, mas mudou o foco de seu calendário. Entre priorizar grandes eventos e se preservar fisicamente ou manter o ritmo alucinante de torneios que o circuito mundial impõe para se manter no topo do ranking, ele fez a primeira opção. Mais saudável e menos "compromissado", o suíço vem sobrando nas quadras, aos 36 anos, quando a maioria apostava em declínio. Ele deu mais uma amostra de que a estratégia foi certeira ao conquistar pela sexta vez, no último domingo (28), o Aberto da Austrália, o 20º título de Grand Slam da carreira.
No ano passado, logo em seu primeiro torneio oficial desde a pausa por lesão, Federer também venceu o Aberto da Austrália. Ganhou mais um Grand Slam, em Wimbledon. Quando o corpo deu sinais de fraqueza, em forma de dores nas costas, o suíço desistiu de Roland Garros, onde tem retrospecto ruim, e torneios menores para se preservar para o ATP Finals de Londres, em novembro. Em 2017, o tenista conquistou sete troféus, com retrospecto de 52 vitórias e apenas cinco derrotas.
O roteiro previsto para 2018 é similar ao do ano passado. Começou com a Copa Hopman, torneio misto que não vale pontos para o ranking da ATP. Após o Grand Slam australiano, Federer jogará eventos de piso duro nos Estados Unidos (Masters 1000 de Indian Wells e Miami).
Antes disso, deverá reassumir a liderança do ranking mundial, ultrapassando o espanhol Rafael Nadal. Espera-se que ele participe de torneios preparatórios para Roland Garros e Wimbledon, mas tudo dependerá da motivação de Federer no decorrer da temporada.
"Senti a mesma coisa durante 15 anos. Em toda partida, eu entrava esperando vencer, ir longe no torneio Desde a lesão que tive [no joelho, em 2016], houve uma espécie de reinício na mente, no corpo e na minha abordagem das partidas", explicou Federer neste domingo, após bater o croata Marin Cilic na final em Melbourne.
Há outro fator também que impacta no calendário: a família. Com exceção dos Grand Slams ou de algum torneio em que precise estar presente por contrato, o suíço também leva em conta o tempo que terá ao lado dos quatro filhos na hora de definir para qual torneio partirá. A esposa, Mirka Federer, está quase sempre presente, até por agenciar a carreira do marido. "A Mirka torna tudo isso possível. Sem ela, eu já teria deixado o tênis há muito tempo. No dia em que ela disser 'não', acabou. Até porque não estou mais disposto a ficar duas semanas longe dos meus filhos", revelou.
Obviamente, Federer aproveita a condição de ser Roger Federer para ficar mais seletivo com a carreira. Com 96 títulos de simples conquistados e 302 semanas totais na liderança do ranking mundial, ele não tem mais nada a provar em termos de performance, e ainda se dá ao luxo de ver alguns de seus rivais históricos nas últimas duas décadas, como o espanhol Rafael Nadal, o sérvio Novak Djokovic e o britânico Andy Murray. Não é uma coincidência que os três, todos mais jovens, estejam penando fisicamente para cumprir um calendário desgastante.
Enquanto os tenistas questionam a ATP e buscam alternativas para tornar a rotina de competição menos desgastante para diminuir a incidência de lesões, Federer pode deixar um novo legado para o tênis: colocar a condição física em primeiro lugar, como já admitiu Chris Kermode, presidente da Associação dos Tenistas Profissionais.
"Esse é o debate sobre ser bom ter Roger jogando aos 36 anos - é é bom, mas ele jogará menos e trabalhará de fato por um calendário com menos partidas disputadas - ou você ter um sistema em que as pessoas joguem em excesso e se machuquem?", questionou o dirigente, em entrevista à TV britânica Sky Sports, em dezembro.
Existe a possibilidade de a ATP realizar mudanças no sistema de pontuação e calendário a partir de 2019. Mais uma temporada bem-sucedida de Federer deverá ter um impacto imediato por um circuito menos sufocante para os tenistas da elite.
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