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“As mulheres precisam ter coragem de denunciar seus agressores”, diz Sandra Bronzina

Por Renata Rutes

A empresária e moradora de Balneário Camboriú, Sandra Bronzina, 29 anos, foi notícia nacional na sexta-feira (6) depois de relatar que também foi vítima de intimidação por parte do advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho, o mesmo do caso da influenciadora e promotora de eventos Mariana Ferrer, em audiência ocorrida em julho (o vídeo foi divulgado na última semana e repercutiu nacionalmente, gerando manifestações virtuais e presenciais em apoio à vítima).

Em 2005, quando tinha 13 anos, Sandra foi estuprada ao deixar o colégio que estudava. O criminoso foi preso somente meses depois. No dia em que esteve no tribunal, sozinha em uma audiência com vários homens, ela encarou Cláudio Gastão, que defendia o homem que a estuprou (o réu foi condenado, mas teve sua pena abrandada porque justificou-se que ele estava bêbado e sob efeito de medicamentos).

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Gastão trouxe à tona um trauma de infância de Sandra, o estupro que ela sofreu por parte do próprio pai, aos 11 anos. Aquilo lhe marcou e vários anos depois, quando a empresária já tinha 25 anos, ela reencontrou o advogado e se apresentou, lembrando o que havia acontecido com ela, e Gastão repetiu a mesma frase, a respeito do pai dela. Um tempo depois do encontro, o advogado ligou para ela, se desculpou e disse que não iria mais defender um estuprador. O que não se mostrou verdade, já que ele defende o empresário André de Camargo Aranha, acusado de ter estuprado Mariana Ferrer.

Sandra já havia contado sua história no lançamento da Procuradoria Especial da Mulher, em 2019, na Câmara de Vereadores de Balneário. Gastão se pronunciou ao jornal Estadão, dizendo que Sandra estava mentindo e ‘queria aparecer’.

Sandra havia decidido que não daria mais entrevistas, mas aceitou conversar com o Página 3. Confira:

JP3: Como surgiu a oportunidade de levar a sua história a nível nacional?

Sandra Bronzina: O Estadão e a Veja me procuraram, pois souberam que eu havia tido experiência com o mesmo advogado. Pensei muito sobre dar meu depoimento ou não, e depois de conversar com minha família e amigos, entendi que este espaço que se abriu para discussão é o nosso momento de falar. Minha história já havia sido exposta na instalação da Procuradoria Especial da Mulher, onde cito que na sala de audiência tive de enfrentar o melhor advogado criminalista do Estado (Gastão), relevando isto entre meus traumas. Não seria novidade falar sobre o assunto, já que venho sendo ativista da causa desde o momento que expus minha história em 2019. E entendi ser um momento importante de posicionamento, pois temos uma oportunidade única não apenas de falar mas de mudar o sistema através da nossa fala. Sistema que infelizmente permanece o mesmo desde quando eu tive de passar por isso, em 2005.

De que forma o caso da Mariana te inspirou? Como vê a importância de as mulheres não se calarem e denunciarem os agressores?

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O caso da Mariana abriu espaço para a discussão. Mas o que me inspira são as milhares de mulheres que passam por isso diariamente, aquelas que tem a coragem de denunciar e precisam passar por esse segundo trauma na experiência com o poder público, e aquelas que sequer tem coragem de denunciar. O que me inspira, é saber que minha mãe passou por isso, minha irmã e eu passamos, e que se não acabarmos com a cultura do machismo, do estupro, e com este sistema retrógrado e ineficiente, as próximas gerações infelizmente irão passar. As mulheres precisam ter a coragem de denunciar seus agressores, para que outras mulheres não sejam vítimas dos mesmos agressores impunes. O homem que tem a coragem de fazer isto com uma mulher, certamente não irá se limitar a ela, mas cometerá o mesmo mal sempre que ver a oportunidade. Então nós mulheres precisamos tomar para si a coragem! Nessa luta, a coragem das mulheres em denunciar precisa ser muito maior do que a dos homens em agredir, abusar, violentar!

Você vem defendendo a importância da humanização desse sistema, acredita que as mulheres, considerando o seu caso e o da Mariana, ainda são caladas quando procuram a Justiça? Como vê o futuro disso e a importância de mudança?

Eu não apenas acredito, como tenho certeza! Muitas mulheres são caladas quando buscam por justiça sim, e muitas vezes isso parte da própria família! Eu recebo constantemente pedidos de ajuda de muitas mulheres, que não sabem como lidar com a situação, pois muitas vezes a própria família a acua a falar, sendo coniventes com a cultura do estupro. Além claro, das inúmeras mulheres que me procuram porque não se sentiram devidamente respaldadas pelo poder público, e isso gera uma insegurança muito grande na mulher para denunciar. É fundamental que isto mude! Caso contrário vamos continuar gastando páginas de jornal, e tempo nos noticiários com notícias atrozes como as que viemos acompanhando. Precisamos mudar o sistema! Humanizar todo o processo! E eu estou confiante de que este seja o momento ideal para fazer isto!

O que acha dos movimentos a nível nacional e também os que estão acontecendo em Balneário e região em prol dessa causa? Acredita que, ainda mais em período eleitoral, isso é positivo?

Abrir um assunto como este para discussão sempre é positivo! Ainda mais na nossa sociedade culturalmente machista! Apenas através de movimentos como esses, vamos conseguir mudar a consciência popular, além claro de exercer pressão sob o poder público, pois a opinião pública tem muito poder.

Acredita que a sua história e a da Mariana servirão de mudança para que advogados, juízes e demais provedores da Justiça mudem suas atitudes e olhares quanto a esse crime tão debatido?

Não apenas as nossas, mas as de muitas Sandras, Marianas, Marias, Joanas, etc. O foco não deve ser sobre nós, e sim sobre a causa, que é muito maior do que nós.

O que você diria para as mulheres que foram vítimas de estupro e/ou violência doméstica, abusos, etc. e tem receio de denunciar?

TENHA CORAGEM! Que a sua coragem seja maior do que a do seu agressor, estuprador, abusador. Faça isso não apenas por você, mas por todas nós! Apenas punindo esse tipo de crime teremos menos estupradores, agressores e abusadores nas ruas.

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